2009

A minha lista de preferências do ano passado parecia já definida à partida: tudo parecia encaixar correctamente nos lugares merecidos. Contudo, este ano senti uma dificuldade incrível em fazer este top, tanto é que acho que há álbuns que estão demasiado abaixo. Mas não se deixem levar por isso, é mesmo por que acima estão álbuns excelentes. Todos os álbuns deste top 20 são de nota 9/10 para cima, são excelentes e eu adoro-os, mas tinha de os colocar em alguma ordem, por isso foi esta que ficou. Ouçam todos, valem a pena.


#01 - Cryptomnesia
El Grupo Nuevo de Omar Rodriguez Lopez
(math rock, noise rock)

Para mim o álbum mais refrescante do ano. Foi também o que mais ouvi, é genial do início ao fim, uma velocidade estonteante, corre tudo a uma rapidez tão grande que à primeira não vão captar nada. São precisas algumas audições para as coisas começarem a fazer sentido, mas quando começam, o puzzle começa a ser visível além do emaranhado de peças. É absolutamente genial, deixem-se levar pela energia da batida frenética de Zach Hill e da qualidade assombrosa dos riffs do Omar. E as letras são as mais estranhas de sempre. Tudo perfeito, tudo.

#02 - Amesoeurs
Amesoeurs
(shoegaze, black metal)

Um álbum com uma beleza interior que em poucos é encontrada. Uma qualidade melódica sublime, numa espécie de re-encarnação de Alcest só que com uma componente black metal mais distinguível. Ainda assim, os vocais femininos existentes são (a par com a voz de Analena) a coisa mais doce que ouvi este ano e estou completamente apaixonado por todas as melodias que ouvi daquela voz. Se fossem todas as músicas assim era um álbum perfeito. Assim, não o é.


#03 - Great Lenghts
Martyn
(electrónica, dubstep, drum 'n' bass)

O meu álbum de electrónica do ano. Não ouvi muito mais que isto, mas este registo é absolutamente fascinante: as melodias, os ritmos dubstep orientados por um drum 'n' bass controlado e preciso, a inovação, o rigor. Quando achava que o dubstep além do Burial era uma miragem, aparece Martyn para me abrir o horizonte. Excelente.


#04 - Crack The Skye
Mastodon
(progressive metal, sludge)

Não gostei nada deste álbum quando o ouvi as primeiras vezes: soou-me aborrecido, sem interesse. Confesso que talvez não estivesse com disposição para ouvir rock progressivo numa época mais sentimental, mas o que é facto é que aposte no Blood Mountain e adorei. Contudo a história mudou, adoro agora este álbum, apesar de não ter a energia do antecessor, é dos registos mais ricos e com mais qualidade que ouvi deste ano. A banda mostra uma mudança repentina de direcção, deixando de lado alguns clichés do sludge e apostando nas características mais genéricas do Rock Progressivo, mas tudo isto sem perder uma base de fãs que se tem solidificando ao longo dos anos. É a diferença entre mudar e saber mudar para melhor.


#05 - In Prism
Polvo
(math rock, noise rock)

Um rock diferente: os Polvo são conhecidos por terem criado uma sonoridade que posteriormente se apelidaria de Math Rock. Isto em meados dos anos 90. O que vêm eles fazer agora? Bom, uma reunião que mostra que a creatividade não se perdeu, muito pelo contrário: este é o álbum mais forte que ouvi deles. É bem provável que tenha das melhores músicas do ano, os riffs surgem uns atrás dos outros, com ritmos perfeitos a acompanhar. Dão aulas a muitos que andam aí a repetir fórmulas.


#06 - Part The Second
maudlin of the Well
(progressive rock, neo-classical)

Se tivesse que escolher o álbum com melhor qualidade, seria sem dúvida este. Os motW voltam depois da pausa que originou os Kayo Dot (espera-se álbum novo deles a sair no início de 2010, já agora), pausa essa que foi excelente, diga-se. Esta grupo renasce para deixar esta pérola progressiva muito bonita, com excelentes momentos e passagens que valem ouro. Não há clichés, é tudo muito bom. Recomendado a qualquer pessoa, sem dúvida.


#07 - by-
Bygones
(math rock, noise rock)

Falando em clichés no Math Rock, admito: este álbum é o poço deles. A fórmula que tem sido repetida até à exaustão por Zach Hill e amigos está integralmente presente neste álbum. Contudo, não estaría nesta lista se a história assim acabasse. Apesar de tudo o que disse atrás, eu adoro completamente este álbum. É uma parceria entre o Zach e Nick Reinhart (guitarrista dos Tera Melos), ou seja, tinha de sair genialidade. Para mim este é dos álbuns que tem as melhores melodias a nível instrumental dos últimos anos no género e é sem dúvida o melhor registo do género, conseguindo rivalizar com o Hold Your Horse Is, dos Hella. Sim, é assim tão bom. E não só: apesar da barafunda toda, consegue ser incrivelmente viciante, não percebo o efeito que este álbum causa em mim. É de génio.


#08 - Bitte Orca
Dirty Projectors
(math pop, folk)

Ao início, a creatividade vocal presente neste álbum impressionou-me bastante, mas impediu-me de ver além. Só com mais audições em cima e muito mais cuidadas é que me apercebi que tínhamos aqui um álbum com grandes raízes num rock matemático altamente creativo e refrescante, como não tenho ouvido em largos tempos. Melodias limpas, tudo muito pop mas complexo o suficiente, mantendo assim um equilíbrio perfeito entre o que é gostável e o que tem qualidade. Impressionante.


#09 - The Eternal
Sonic Youth
(noise rock)

Se dou na cabeça das minhas bandas de eleição que ao tentarem mudar me causam um grande desgosto, tenho também de dar graças por existirem bandas que nunca envelhecem, mesmo que se mantenham fiéis às suas raízes, ao que os fãs vêm neles. Este é o caso dos Sonic Youth: uma banda com mais de 20 anos que pratica do melhor rock que se ouve nos dias de hoje, continuando jovial, no bom sentido, e nem parece que já estão na casa dos 50.


#10 - Popular Songs
Yo La Tengo
(shoegaze, indie pop, noise rock)

Mais uma banda da grande fornada dourada do indie noise da ressaca pós-80's. Os Yo La Tengo praticam um noise inconfundível, extremamente melódico e com grande sentido pop. Nunca desiludindo, lançam assim um álbum sólido com grandes canções inspiradíssimas e facilmente adoráveis. Do pouco que ouvi deles, está próximo do melhor.


#11 - Inconstantinopolis
Analena
(post-hardcore, screamo, emo)

Esta era a outra voz feminina que me faz bater o coração mais rápido. Nunca ouvi berros tão delicados e doces num post-hardcore de guitarras distorcidas e produção menos cuidada e suja, o que se pede no género. Revejo muito do emo que se praticava nos primórdios, o bom emo. É sem dúvida um álbum fabuloso com uma das melhores músicas de abertura do ano.


#12 - The Babel Inside Was Terrible
We Insist !
(post-hardcore, math rock, alternative rock)

Tive opurtunidade de ouvir o álbum uma vez mas chegou para ver o potencial que aqui se apresenta. Ouvi com muita atenção e adorei o que ouvi, não se tornou maçador a nenhum nível, sempre muito creativo e diferente, importância dada a pormenores de qualidade extrema. Tenho pena de só os ter conhecido agora, mas fica o incentivo para que o conheça ainda melhor. Se tivesse que o descrever seria algo como uma fusão entre At The Drive-in e These Arms Are Snakes, quase quase Mars Volta, tudo com os pontos nos i's. Gritante o desconhecimento por esta banda por parte do público.


#13 - Take Off!
Andromeda Mega Express Orchestra
(jazz, neo-classical, avant-garde)

Este álbum é muito bom em qualidade, gosto da forma como cada instrumento tem uma personalidade própria, sendo protagonistas deles próprios, assim como todas as melodias são captadas numa panóplia de pormenores de grande classe de composição. É, sem dúvida, dos álbuns com mais qualidade que ouvi este ano, mas o que me afastou de gostar mais dele foi o gosto a banda sonora que o assombra. Mas isso é problema meu de não gostar, mas de resto adorei o feeling jazz com travos de música clássica muito bem escrita. Recomendadíssimo.


#14 - Selected Passive Drones Part II: Organic Journey
Kiran Leonard
(drone, rock experimental, avant-garde)

Cabe-me a mim divulgar este álbum que me surpreendeu, não só por saber que o seu autor tem 13 anos, mas também por ele tocar todos os instrumentos, incluindo bateria. É um álbum com qualidade soberba, debatendo assim o meu favoritismo com álbuns de bandas como Isis, Men Eater ou Dinosaur Jr. É muito interessante todos os sons captados nesta autêntica "viagem" no mundo de Kiran Leonard, um álbum que se apresenta conceptual e que mostra uma grande evolução sonora dividida em duas faixas de 30 minutos de boa música com influência de bandas tão distintas como Godspeed You! Black Emperor e The Mars Volta. Fosse de uma banda profissional ou de um músico de secretária, este álbum estaría aqui de qualquer maneira.

Disponível para download grátis.

#15 - Vendaval
Men Eater
(sludge metal)

O único álbum português que ouvi deste ano. Culpa minha? Talvez culpa da escassez de lançamentos que me entusiasmassem este ano. Confesso que estive mais ocupado em investigar álbuns portugueses mais antigos, mas pelo que vi do que foi feito nada me chama a atenção. Isto é Men Eater, um pouco diferente desde Hellstone mas mais enérgico, menos maturo, mais experiência e mais Mastodon. Esta banda segue uma rota que pouca coisa os fará travar até serem uma das melhores bandas no panorama nacional.


#16 - Wavering Radiant
Isis
(post-metal, sludge metal, progressive)

Das poucas bandas, se não a única, de post-metal que continuo a ouvir, os Isis deixam-me com um álbum que ouvi muitas vezes mas ainda não entranhou. Não nego a qualidade, muito pelo contrário. Simplesmente encontro pouca coisa que se adeque ao meu gosto neste último registo, preferindo assim ouvir e dissecar melhor os anteriores. Guardo este para um futuro próximo onde o vou ouvir as vezes necessárias.


#17 - Life of Leisure
Washed Out
(dream pop, electrónica)

Talvez este álbum estivesse mais acima caso eu não tivesse tido uma crise de vício e o ouvisse até me fartar. E como é uma sonoridade muito dreamy e pop, há sempre um grande risco de enjoar. Foi o que aconteceu, ainda adoro o álbum mas muito menos do que quando o ouvi as primeiras vezes. É por isto que recomendo a todos, é maravilhoso ouvir isto com o Inverno mas estou ancioso para o experimentar numa praia.

#18 - Farm
Dinosaur Jr.
(noise rock, alternative rock)

Mais uns veteranos a dar cartas, os Dinosaur Jr. apresentam o rock do costume, sem tirar nem pôr. Talvez repetindo uma fórmula gasta para os fãs, mas nunca baixando qualidade, muito pelo contrário: este álbum impressiona-me como é que com o passar dos anos ainda existe uma chama tão grande e poderosa dentro duma banda com um peso da idade enorme. Parece que a gravidade anda com os valores em baixo para estes lados.


#19 - Manners
Passion Pit
(indie pop, electrónica)

Um álbum que ouvi pouco, mas quando ouvi as melodias captaram-me uma grande atenção. Do melhor que se faz num género genérico e aborrecido, inseria-os talvez na onda dos Washed Out, talvez por os ouvir nas mesmas ocasiões.

#20 - Films
Yuki Murata
(piano, neo-classical)

Este é um álbum instrumental de piano com melodias de uma beleza imaterial, vale muito a pena ouvir em momentos mais nostálgicos mas deixando-se levar pelos pensamentos, não tanto pela música em si. Não lhe dêm demasiada atenção, ele não pede nem quer.



Menções Honrosas

Alcest/Les Discrets - Split Vinyl

Um registo muito esperado da minha parte que não me desilude mas deixa a salivar por mais. Talvez por ser curto, talvez por Alcest ter apenas duas faixas em que uma parece um left-over de Amesoeurs (muito bom por sinal, apenas é negativo por ter a sonoridade característica de Amesoeurs, e como a banda já acabou suponho que o Neige tenha aproveitado esta música) e a outra sendo apenas uma faixa de transição, talvez por a última música ser uma Demo. O que é certo é que é um álbum que me vai fazer ouvi-lo muitas vezes porque tem realmente momentos belíssimos, mas deixa-nos à espera de algo maior, ao que já estamos habituados. Resta esperar pelo álbum de Alcest que está aí a chegar, assim como o concerto em Braga.

The Pains Of Being Pure At Heart - The Pains Of Being Pure At Heart

Gostei muito deste álbum ao início, mas rapidamente o fulgor inicial foi apagado e apenas duas músicas são ainda relembradas nos dias de hoje, e uma delas já me cansei de a ouvir. Se todos os álbuns assim fossem, não havia álbuns históricos: tudo caía no esquecimento.

Of One Mind - Of One Mind EP

Já tinha escrito sobre este registo: adoro muitas músicas lá incluídas e gosto muito das outras, mas peca grandemente por ser todo ele sintetizado por um programa de computador, tornando-o demasiado virtual, principalmente para mim que trabalho com o mesmo programa todos os dias. Cansa-me ouvir por essa razão, mas adorava que estas músicas fossem um dia re-gravadas num estúdio a sério, com instrumentos a sério e com músicos a sério. Era uma perda muito grande se não acontecesse.

Sights & Sounds - Monolith

Só ouvi este álbum uma vez mas chegou para ficar elucidado, tem qualidade e potencial, mas ainda não tive curiosidade de o ouvir de novo. O que captei da audição foi que tem garra e qualidade, simplesmente não me cativou o suficiente.

Pearl Jam - Backspacer

Este álbum está aqui em homenagem a uma banda que consegue manter a qualidade sempre em cima apesar dos anos de carreira e constantes mudanças de sonoridade. A aposta de um lado mais pop neste álbum não me afasta mas também não me cativa. Tem músicas muito engraçadas e gostáveis mas fica por aí. Bastante bom ainda assim, a re-ouvir no futuro.

Mono - Hymn To The Immortal Wind

Um álbum que tenho alguma pena de não compreender mas que rapidamente concluo que não é culpa minha. É um álbum muito emocional, com melodias fantásticas, mas que num todo soa extremamente repetitivo pois as composições escritas são aplicadas todas da mesma maneira, a mesma fórmula para todas as faixas: tremolo picking com grande reverb e um violino a acompanhar a mesma melodia. De vez em quando entra a bateria a fazer um build-up onde se repete até à exaustão a mesma melodia arrastada e lenta, o grande cliché do post-rock. A pretenciosidade de soar bonito sai caro numa banda que não vai mais além devido ao uso já estipulado dos instrumentos.

BLK JKS - After Robots

Ouvi este álbum as vezes suficientes para saber que é interessante mas que falta alguma magia, tirando "Lakeside" que é uma das músicas do ano. Pode ser que gostem, eu achei um bocado chato. Apesar de tudo, merece a menção.


Obscura - Cosmogenesis

Desde quando é que ouço Death Metal? Desde que deixou de ter o que menos gosto para ser algo com sentido matemático e prefeccionista, músicas acessíveis num álbum onde a técnica impera, mas controlada pelo sentido melódico.

Thursday - Common Existence

Ouvi este álbum no início do ano, quando saiu, e gostei bastante. Achei demasiado puxado nas primeiras audições e desisti de insistir nele. Apesar de tudo, ainda me lembro de algumas passagens que adorei e que tenciono voltar a ouvir.

1 postas:

Sara F. Costa disse...

Trabalho exaustivo de escolhas! Bom post. :)

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